quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

A. W. B.

Te escrevo estas linhas à beira de água,
aqui; frente ao meu mais antigo amigo.
Maior que ele, só o coração e a mágoa,
fieis ajudantes na industria do destino

Bondade e beleza é poder inspirar o ar,
pois apareces aí, no profundo de mim.
Fervem os olhos em água ao te contemplar,
dom imerecido viver numa alma assim

Aqui, onde o tempo do dia claro faz escuro,
verás como do triste amor mais não quero.
Como cego em agonia na escuridão procuro,
da escravidão me libertar, mas é efémero.

Tal como tu mar, nem santo nem herói.
Como tu amigo, nem cobardia ou valentia,
apenas o gentil e temido amor que destrói.
Alegria? Quem sabe… talvez um dia.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A. W. B.

Se no mundo maior beleza houver.
Não é contemplação do vil humano.
Bem escondida está do ser profano.
É nobreza, divino e mulher.

Contra ela lutei eu com a razão.
Que fazer quando não se quer vencer?
Só de imaginar de a ver não poder.
Sofre a pobre alma em aflição.

Caminhar longe de ti apartado.
Em repouso ficam o choro e riso.
Vida?... Não mais do que é preciso
Em peito longamente magoado.

domingo, 17 de janeiro de 2016

A. W. B.

Este amor não se escreve na história.
Não é vivido no fulgor do momento.
De tão pobre e humilde, ri-se do tempo.
Vem daquele paço de além da memória.

Tão confuso é o que o amor relata.
Da vida e morte, irmãos no destino.
Alegria e dor, amantes no desatino.
Doce e terno suspiro que à alma mata.

E tu beleza! Que à Beleza desafias.
Em forte e terrível mal que nega a sorte.
Fazes vaguear uma alma sem norte
Que lembra ao corpo apenas...  "respiras"!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Da Vida e da Morte

Porque não temo a morte?
Porque não temo a vida,
nem batalhas de má sorte?

A presença cuja luz me alivia,
Me fez bela espada para maneio,
Para vencer inimigo que se esguia,

Velhaco, cobarde e feio,
Fugindo vai pela escuridão infame,
Da força que lhe porá o freio,

Correndo cai. Ali fica. Que se trame!
Contempla a vida, mas não a vive,
Sina de todo o homem que não ame.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Da política (Parte1)



1ª Parte

Nas físico-químicas, podemos encontrar substâncias ou compostos de elementos em estado que se denominam estáveis ou instáveis. Quando o cientista analisa e age sobre estes elementos na busca de algo, transporta consigo um princípio epistemológico relacional entre vida e matéria.
Como se depreenderá facilmente, não é possível em pensamento político adoptar a mesma raiz epistemológica quando se lida com um estado composto por homens. Revelar-se-á indigno de qualquer organização política, não considerar para além da costumeira análise matéria-vida (economia), as análises de origem epistemológica vida-psique (ciência política) e, obviamente, psique-pneuma (arte política).
Sem o descrito, a ausência de estado acentuar-se-à ainda mais, caso no meio político se verifique a existência de um movimento caótico em termos sociais.
Um país que viva em estado de instabilidade social, sem regime, sem doutrina, poder-se-á chamar-se de estado? Habitualmente, nesta situação, continuará a se denominar estado mas unicamente em termos formais (de jure), faltando a substancia que preencha essa mesma forma (de facto).
Destarte, poderemos assim proceder à construção dos alicerces físicos, psíquicos e pneumáticos do que se denomina Estado de facto (sendo este independente ou não).
Iniciando em termos do preceito epistemológico matéria-vida, podemos sem grande receio de errar, afirmar que para que exista estado, os seus membros terão que: - Comer, beber e ter habitação -, pois sem o preenchimento destas três condições não será possível o passo seguinte, ou seja, a passagem para o preceito epistemológico da relação entre vida e psique. Situação à qual o sapientíssimo Agostinho da Silva se referiu: - Comeu? Bebeu? Dormiu? Muito bem! Está então pronto para ser educado.
Preenchendo os preceitos acima descritos, existirá então a passagem à educação (didáctica ou ainda formação), palavra derivada do latim educare, por sua vez com ligação ao verbo ex ducere, que tem como significado intrínseco: - Libertar, extrair, guiar de dentro para fora – conceito este, onde de maneira nenhuma pode ser confundido com instrução, palavra derivada do latim instructio, que significa: - adaptar, ordem, disposição.
A educação tende a permitir a ligação entre a anima (no seu sentido lato) ou alma, com o princípio, ou por outras palavras, com o estágio mais alto do espírito humano, evitando desta forma a absorção por parte dos indivíduos e seus respectivos líderes, de mitologias hodiernas e respectivas crenças (Mitologia = do grego mythos (enredo) + Logos (pensamento) - pensamento sobre um ponto do enredo, substituindo dessarte o princípio).
Passando do período de educação para o período de instrução, verificou-se no passado tal como hoje, que os indivíduos sujeitos ao processo educativo, tendem a manter esta ligação com o princípio.
No que diz respeito ainda à educação, urge um esclarecimento. Verifica-se que um significativo número de elementos do sexo feminino da sociedade que se mostram contra o processo educativo na escola. Frases como: - A educação dá-se em casa não na escola - não são mais do que afirmações de quem confunde dois estágios diferentes desse processo didáctico que é a educação. Tal como a filosofia portuguesa afirma por intermédio de seus ilustres representantes do passado, a mulher, é eternamente a educadora do homem. Não será por outro motivo, que cada vez que se denomina alguém ou geração de mal educada, são os elementos do sexo feminino que tendem a reagir com indignação face a tal afirmação, pois a mulher, mesmo sem a devida confirmação intelectual, sabe que a educação é algo que lhe pertence. Todavia, hoje, assim como Delfim Santos nos fez lembrar, perdeu-se toda a informação educativa que existia até ao governo do Marquês de Pombal. A educação administrada pelo feminino incide sobretudo na relação da criança com o mundo (costumes comportamentais), divergindo esta, daquela mencionada pelos filósofos, que se predica numa iniciação ao auto conhecimento de si próprio, do que pode levar ao mundo, completando o processo educativo feminino que incide no movimento da relação estabelecida da criança com o a rodeia (diferença entre o que está estabelecido e o que se deve estabelecer (que vem de dentro)).
A própria mulher, embora muitas vezes sem consciência disso, é a primeira victima da ausência da educação masculina. Frases como: - “já não há Homens” -, ou títulos de ensaios como: - “Machos há muitos, Homens há poucos” -, não são mais que a confirmação do que Álvaro Ribeiro nos referiu acerca da evolução de cariz aristotélica do homem, onde este embora aprendendo alguma gramática, nunca ultrapassa ou domina a dialéctica e, por consequência procede na vida (até ao fim desta) com a agressividade típica de um adolescente, sendo incapaz de ascender ao varonil estágio retórico, ante-câmara do amor. No momento em que escrevemos, o País é dominado por tecnocratas e mecanocratas com o consequente comportamento apátrida e, se prestarmos atenção e ouvirmos as intervenção públicas por parte do público feminino usando os órgãos de comunicação social, assistimos à vulgar denominação de “criançolas” para adjectivar os governantes.

Entre dois homens, um educado e instruído e outro apenas instruído, que tenham optado ambos por seguir uma carreira em física, nos cálculos matemáticos inerentes ao seu trabalho, o primeiro tenderá a espantar-se devido ao facto de conseguir abstrair para matemática conceitos complexos sobre o que o rodeia, embora permaneça nele o eterno mistério da essência do “1” (capacidade de espanto permanente). O Segundo, seguindo meramente as normas e regras que lhe foram instruídas na academia, tenderá a não reflectir essa permanente relação com o mistério, espantando-se apenas ocasionalmente com a natural descoberta de novos factos, ou doutro modo: - quando soluciona algo, encerra o mistério (O que António Telmo apelidou de: - Passagem do vivo ao morto).
Não são poucas as vezes que ouvimos pessoas referirem e com acerto, que a juventude não está no corpo mas no espírito. Infelizmente, da maneira como é afirmado, o ouvinte encara esta afirmação como um conceito compensador por parte de alguém que já possui uma idade avançada, confundindo desta forma juventude com modernidade. Daí, em termos do discurso político, ouvirmos com frequência, o tecnocrata, ou homem com pensamento tecnológico (se seguir-mos a nomenclatura usada por Martinho Heidegger), afirmar que deseja para Portugal um País moderno (do latim modernus. Que brilhantemente Hernâni Cidade traduziu como - o que segue a moda do dia. - Ou em termos populares - Maria vai com as outras).
No entanto o que se prescreve para  qualquer sociedade, predica-se na palavra juventude, do latim “juventus” (sopro, vento), palavra que significa: O que se encontra no meio, entre o infante (o que não fala) e o adulto (o que fala). O que se encontra entre o princípio e a actualidade, ou seja ainda,  o que une o início (no homem, nação, País, etc...) com os dias de hoje (age-se hoje, com o espírito de sempre). 
Repetindo, a existência da instrução sem educação chama-se como dissemos mitologia, do grego mythos, que significa enredo e, logos, que significa pensamento. Ou seja, mitologia, significa pensamento incidindo sobre um ponto ou parte do enredo.
O homem actua de duas formas diferentes face à mitologia: - de forma crente -, crendo e simultaneamente trocando o principio pelo ponto do enredo, seguindo e agindo na vida como se o segundo fosse o primeiro. Ou ainda de forma exegética, onde o ponto no enredo tem como finalidade o movimento de religação (ou religião) com o princípio.

Neste acto de guiar de dentro para fora a que se dá o nome educação, surge no homem a ligação interior com algo existente nele (entre outras): - A Política.
Sendo essa ligação mais estreita em alguns homens que noutros, o que será o mesmo que afirmar, que a política surge de forma activa em alguns homens, de forma passiva noutros (Todos homens sentem e discorrem sobre política, mas nem todos são políticos (o que não faz deles melhores ou piores, apenas diferentes)).
A religião da antiga Grécia, diz-nos que após Prometeu (o titã) ter trazido o fogo aos homens, estes começaram a industriar, a lavrar etc..., por outras palavras: a progredir no mundo. Mas, simultaneamente, iniciaram um processo de roubo e de guerra entre si. Então, Zeus, o rei e pai dos deuses (a justiça e a harmonia (Zeus + Hera = Arc. S. Miguel)), ao verificar o que se passava, para acabar com o conflito, enviou aos homens o seu mensageiro; Hermes, o deus da inteligência e da eloquência, de forma que este ensinasse aos homens a arte da Política.
A Zeus, competiu a responsabilidade de transmitir aos homens a arte da política, mas como podemos perceber, o rei e pai dos deuses, não se preocupou em transmitir aos homens ciência política. Os deuses, tiveram como missão transmitir aos homens informação sobre o que não muda e, que transporta o homem em direcção ao uno, deixando no entanto, espaço para que o homem aprenda e apreenda por si próprio informação no que diz respeito ao que muda: Ciência. Como afirmou o vate lusitano: - O mundo é composto de mudança.
Destarte, a política é pois composta por arte política e por ciência política. À primeira compete a função intelectual e espiritual de unir. À segunda, compete consubstanciar a primeira e, agir, desunindo as ameaças a essa mesma união (Um pintor necessita de ciência do saber pintar, para poder expressar a sua arte (a técnica de saber pintar não é arte)).
A ciência política sem a presença da arte política (postura mitológica. Inversão do segundo pelo primeiro), residirá carente da sua função consubstanciadora e construtiva, não perdendo por outro lado o seu papel divisionista, destruidor. Daí o popular dizer: - Dividir para reinar (Maquiavelices sem arte política, não será mais que a virtude de um canalha).
A passagem da educação à descoberta da política activa por parte do homem, transporta-nos para a terceira análise de cariz epistemológico, ou seja psique-pneuma, pois o que governa ou reina é a pneuma e o intelecto que a procede.
No entanto, a política activa num homem de nada serve sem que este possa comunicar. Para além dos meios de comunicação necessários à política e consequentemente ao político, a estes será impossível comunicar sem energia. Arriscando ofender o espiritista mais prosélito, afirmamos que os mortos fisicamente não comunicam pelo facto de não possuírem energia.
Temos pois reunidas todas as propriedades que são necessárias à composição de um estado de facto. Para que este possua se predique no real. Este terá que fornecer a si próprio: - Comida, bebida, habitação, educação, política, comunicação e energia.
Um País onde os seus naturais não possuam controlo sobre as propriedades acima descritas, poder-se-á dar o nome de estado sob o ponto de vista formal, nunca sob um ponto de vista formal e substancial (de facto), devido à evidência, de não ser possível agregar os três leituras epistemológicas numa só (a quarta leitura), tal como acontece em termos literários com a epopeia (onde a acção é una). Lembramos que tanto Camões como Dante afirmavam, que existiam quatro maneiras de ler as suas imortais obras (Assim como a Bíblia, Corão, Avesta Etc...).
Caso a leitura das propriedades de um estado não seja efectuada de forma epopeica (una – o que o homem é), só residirão as outras duas formas restantes: - a trágica – onde o homem se faz inferior aquilo que é; e, a cómica – onde o homem se faz superior aquilo que é (face ao estado real, ambas são ilusórias (se é ilusório, logo não é mas ilude-se na tentativa de ser)).

Verifiquemos então dentro do que foi afirmado, que expressões pode um estado assumir. O estado pode assumir uma expressão Monárquica, Aristocrática ou Democrática, o que em termos formais significa: a forma como organiza as suas instituições. Corrompendo a três expressões de um estado acima descritas, teremos e por ordem: Tirania, Oligarquia e Ditadura de uma maioria.
Por motivos práticos face ao que rodeia os portugueses e Portugal hoje, apenas incidiremos o nosso espírito sobre a Democracia (Poder do Povo).
Sobre isto, será boa prática relembrar o que nos deixou o eruditíssimo Álvaro Ribeiro em texto do início do ano de 1976:
(…) A Democracia não é uma instituição, nem está definida na Constituição. Não tem existência concreta nem essência abstracta . Desse modo, tudo quanto seja dito para servir a Democracia soará como um falso balbuciar de palavras sem ideias nem significações.
Dir-se-á como um servilismo mitológico, impróprio de homens que receberam o primeiro grau de cultura, e que assumiram fácil consciência da sua liberdade.
A Democracia não é uma deusa para adorar ou invocar. Tornam-se portanto execravelmente ridículos os bonzos que se tratam uns aos outros por democratas, já que nos aparecem convictos de que são eles depositários ou mandatários da Cracia, em alemão Kraft, em português Poder. Quem os iludiu de que alguma vez foram investidos em tão discutida e evanescente dignidade?
Porque não imitam a modéstia do povo?

Para além da expressão de um estado, sujeita à necessária psicanálise, ou, à passagem da filologia à filosofia, a democracia pode também definir-se como movimento ( Não tem existência concreta nem essência abstracta), em que o homem verifica a sua presença não no substantivo (.A Democracia não é uma deusa para adorar ou invocar), mas no adjectivo - Democrático.
No entanto, como se verifica, não só em relação à Democracia como em relação ao que rodeia o homem em geral, existem duas atitudes básicas diferentes por parte deste: - Entre o democrata e, o que pretende o que é democrático. Entre o consumidor, em que o consumo se baseia numa acumulação de objectos físicos ou ideológicos e, o coleccionador, o que adquire com pretensão de tornar algo perfeito, física ou ideologicamente.

Tomando por empréstimo a nomenclatura usada no conhecimento do marketing e comunicação como maneira de definir o comportamento do consumidor, teremos que definir a raiz deste como um comportamento circular com acentuação numa trindade.
O consumidor segue na vida orientado por interesse (dinheiro, posição intelectual, posição social, Etc.), logo, não é possível ser possuído por interesse sem a imperativa presença do medo. Na presença destas duas propriedades provocadoras e provocantes da degeneração do carácter humano, será impossível não obter uma terceira – a honra. Honra esta, não ligada à nobreza, mas aos mitos e crenças da época sobre o que é ou não é ser honrado.
Destarte, afirma-se que o consumidor vive em constante estado de conflito, não só com o que o rodeia mas também consigo próprio, tal como nos diz Tucídides na sua magnifica obra A guerra do Peleponeso: - Só há três maneiras de se iniciar e fazer a guerra: Pelo interesse, pelo medo e pela honra.

Como será fácil cogitar, o comportamento do homem acima descrito não é isento de afectar esse movimento social que desagua num regime democrático, a começar pela análise que se faz da própria democracia. Uma das maneiras mais fáceis de se observar um estado onde se constate o poder do povo, é exactamente a busca do que é oposto ao poder no homem, ou seja, a solidão.
Seja alvo de uma interpretação esotérica ou exotérica, facilmente se concordará que ninguém é possuidor de poder se estiver ou se sentir só, daí a multiplicação nos nossos dias dos chamados grupos de pressão, ou lobis, e ainda, a multiplicação de organizações sindicais e associações de beneficência. Poder-se-á no entanto colocar, e bem, a democracia sob a égide de um movimento messiânico. Devido à imperfeição humana e à constante mutação do mundo, não é possível ao homem a construção de regimes políticos perfeitos, destarte, não será incorrecto afirmar, que se pode verificar a presença da democracia num regime onde se verifica a tentativa de retirar a solidão ao homem.
A menos que queiramos ferir de morte o silogismo e assim enveredar pelo quelho da irracionalidade, afirmamos que num regime em que não se verifique na sua acção esse movimento de união (luta contra a solidão), ele não poderá ser chamado de democracia, pois o seu movimento é contrário ao poder do povo. Por outras palavras e em termos de imagem, um homem poderá ir do Porto a Lisboa e regressar de Lisboa ao Porto. O que será impossível, é um homem ir do Porto a Lisboa e regressar do Porto a Lisboa.
O que se verifica em todo o mundo ocidental, de onde os portugueses copiaram sem qualquer espírito crítico, sem a dignidade que a sua pátria e sua história com quase novecentos anos merece, é uma confusão entre democracia e sufragismo. È certo que não existe democracia sem a presença de sufrágio, mas o contrário já não se verifica. Ao constituir um “ismo” no que diz respeito ao acto de sufragar, este não é revelador da presença da democracia tal como a nossa história confirma, pois os Reis visigodos eram sufragados, mas face ao que sabemos, nunca passou pelo intelecto de um visigodo afirmar que vivia em regime democrático.

Embora Alexis de Tocqueville, na sua imortal obra Democracia na América, já nos referisse na altura o desagrado que lhe causava a ideia que os americanos tinham sobre a ditadura da maioria à qual denominavam democracia, desagrado aliás legítimo, visto a ditadura da maioria não ser mais do que a negação da própria democracia, é no entanto o pensamento do tragicamente assassinado Presidente norte americano Abraham Lincoln, que surge na voz dos pseudo-ideólogos do regime como majestática personagem que dá credibilidade a este patusco malabarismo ideológico.
É um facto que Abraham Lincoln defendeu esta tese. Não é menos verdade, que ao filósofo ou a qualquer pensador livre honesto, esta teoria em si própria é totalmente incompreensível. O mesmo já não acontecerá, se atendermos ao que rodeava esta imortal figura da história americana.
Abraham Lincoln, cuja governação se deu em pleno conflito bélico, em plena guerra de secessão, tinha como adamastino problema a trágica e ultrajante situação de milhares de escravos negros que povoavam os estados do sul da federação e, que obteriam a sua liberdade em breve.
Para esta população, desumanamente condicionada não só em termos psíquicos como em termos físicos, a ideia de colocar uma cruz num papel e, que essa mesma cruz valesse em termos quantitativos tanto como uma outra cruz colocada num papel por um outro homem, não só possui em si um fim didáctico, como também um fim político. Predicando-se esta ideia em algo que eleva esta ilustre personagem histórica acima de qualquer refutação por parte de um filósofo ou pensador livre, pois estes, caso não esteja presente essa disfunção gramático-espiritual a que se dá o nome de estupidez, verificarão que se encontram em presença de um Homem bom, logo, da bondade (irrefutável virtude teologal).
Qualquer analogia que se possa fazer entre um escravo negro da América do séc. XIX, alguém física e psiquicamente condicionado com o homem ocidental do séc. XXI (apenas psiquicamente condicionado), seria, como tanto gostava de dizer o inesquecível Delfim Santos: - Talvez seja demasiado muito.
Indo além de Aquino, que nos referia que um sistemas político ideal deveria ser constituído por um misto de Democracia, Aristocracia e Monarquia, afirmamos, que mesmo que se queira compartimentar um regime em apenas numa das opções referidas, tal não é possível, sendo simultaneamente algo que se demonstra por si só. Se olharmos para o os países constituintes do apelidado mundo ocidental, de imediato identificamos o monarca (ou tirano por corrupção). Figura mais ou menos respeitada, mais ou menos manipulada, que salvo excepção, se lhe atribui o nome de Constituição. Quanto à pretensa Aristocracia (ou oligarquia por corrupção), esta está presente na substancia ou ausência desta, nos mitos e crenças dos apelidados hoje líderes de opinião, que as impõem ou defendem. Estando ainda, os líderes institucionais da sociedade dependentes do voto popular, não se poderá de maneira nenhuma excluir a presença da democracia (ou ditadura da maioria).
A diferença mais ou menos visível, mais ou menos sentida, será na maneira como as sociedades se regem e, como tal, no peso das decisões da política configuradas nas instituições.

Existem várias maneiras de estabelecer uma diferença entre monarquia e tirania. Uma das mais vulgares e infalíveis, não é a tão divulgada violência por parte da personagem ou instituição que a representa, pois essa mesma violência pode ser provocada em defesa de uma tirania ou monarquia (Erro de Poper, quando atribuía à aristocracia platónica o epíteto de tirano). A diferença entre monarquia e tirania, pode ser facilmente observada na forma como as sociedades punem os seus constituintes, ou seja, a maneira como lidam com o facto de infracção igual, punição igual e sofrimento diferente ser admitido ou não directamente pelo poder político. Sociedades de consumo, que punem com coimas seus cidadãos sem prévia análise do seu património, pretendendo confundir poder de compra com valor a pagar face a uma infracção, não serão mais que tiranias crapulosamente encobertas por evanescentes mitos.
No que diz respeito à aristocracia e à oligarquia, esta será talvez a diferença mais fácil de observar, pois uma breve análise sobre o poder hodierno dos mitos e crenças dessa mesma sociedade, nos mostrará face a qual delas estamos presentes. Como exemplos: -Numa sociedade onde impere o poder de um culto religioso e o subjacente poder clerical, tenha decisão de vida ou morte, riqueza ou miséria sobre os constituintes, ou numa sociedade onde impere a economia e exista uma enorme diferença entre pobres e abastados, serão reveladora da existência de uma oligarquia (O aristocrata, é o que genuinamente é pelo outro (Une, logo, inibe grandes disparidades)).

Voltando à democracia, restar-nos-á identificar a razão pela qual o homem ocidental persiste na crença que o seu sistema político se predica na democracia. Para tal, vale a pena reler um pequeno excerto do discurso de Leonardo Coimbra no Parlamento português sobre a Questão Universitária.

(…) As Universidades são, pois grandes factores de evolução da crença. E assim é que sempre que um bando tenta impor uma crença, adormecer o espírito humano num certo associonismo psíquico, esse bando vai à conquista das Universidades”.

Para nos ajudar a elaborar o nosso pensamento, não será descabido colocar um trecho da peça de teatro “O diabo vermelho” de Antoine Rault, tão condizente com a actualidade.

Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV

"• Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço…

Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado… o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!

Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo ? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: Criam-se outros.

Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E então os ricos?

Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert: Então como havemos de fazer?

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável."


A corrupção existente numa sociedade, salvo as devidas excepções onde se tenta modificar as mitológicas elites vigentes, é produto do grupo de indivíduos que se encontram no meio, seja lá o que a sociedade da altura considera “no meio” ou médio. Se tomarmos como exemplo o cristianismo e o funcionamento da sua trindade, verificaremos que o Pai e o Filho são unidos pelo Espírito Santo num uno (Deus é trino e uno). Quando esse mesmo espírito (o que surge no meio e une) contempla o homem (denominação de Graça), este torna o homem uno na sua vida terrena com o seu interior (homem completo, ou homem feliz em termos terrenos).
Da mesma forma, em termos sociais, é na ausência de um espírito unificador dos que estão no meio onde se poderá verificar o estágio e evolução de uma sociedade.

Numa sociedade que se denomina capitalista e onde a palavra capital se esvaziou numa nuvem de irracionalidade, pois desde à muito capital passou a ser abjectamente e apenas sinónimo de crédito financeiro, separando-a de toda e qualquer ligação ao conceito abrangedor de capitalidade, tal como nos diz Rault na sua irónica peça, cabe ao que se denomina desde o Séc. XIX classe média, no seu interesse, medo e honra, na sua ânsia face à potencial riqueza ou pobreza material, constituir todo um conjunto de mitos e crenças sociais expressas em dúbias constituições, que de republicanas apenas possuem o nome, que tendem ao - “adormecer o espírito humano num certo associonismo psíquico” – que nos fala Leonardo Coimbra, por intermédio do que se denomina líderes de opinião, elementos que regra geral se encontram no que denominaram classe-média/média-alta.
É pois com lamentável impotência, que os filósofos sentem uma desconcertante incapacidade de comunicar enquanto vivos (quando desaparecidos, a classe média procede regra geral à constituição de ideologias sobre o que o filósofo disse ou escreveu), pois a posição de Boécio face à discussão entre eutiquinos e nestorinos, parece nunca os abandonar, ratificando o sentido da célebre frase do mártir: - Perante tal loucura, eu sentia-me uma pessoa sã no meio de desvairados, mas se me erguesse e pedisse para falar, ir-me-ia sentir um desvairado no meio de pessoas sãs.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Da Graça




Aparece gentil e tão honesta
Minha senhora quando nos saúda,
Que cada voz, tremendo, fica muda
E os olhos não ousam mesmo olhar.
 Vestida de humildade, lá vai ela,
Benignamente ouvindo-se louvar;
E dir-se-ia coisa de espantar
Vindo do céu à terra, num milagre.

Tão agradável surge a quem a vê
Que pelos olhos dá ao coração
Dulçor para entender, de conhecer.
Dos seus lábios parece que desliza
Um sopro de amorosa suavidade
Que vai dizendo à alma, tu, suspira!

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A. W. B.



Sois vós senhora que por minha mão escreve
Aninhada no meu ombro e pela calada,
Me em doce e suave ternura mata,
Em ausência de fulgor e tempo breve.

Sois bem mais do que pede a vida,
Alegria que Deus aos Deuses não concede,
Ó!! Beleza e calor que afugenta a sede,
Gentil nobreza que não me é devida.

Da dor e da alegria vou morrendo,
A dor desperta, pois a alegria o sente,
Da alegria, nasce a dor que não mente,
Da alegria e da dor vou vivendo.